sábado, 27 de junho de 2009

TODOS NÓS A ESMO

Uma mulher que parece ter o casamento perfeito, trai o marido e é viciada em drogas.

Outra, viúva e depressiva, comete suicídio ingerindo uma dose cavalar de comprimidos, deixando órfão o único filho. Um rapaz de 25 anos, que dedicava-se a cuidar da mãe com todo o carinho. Vaga pelas ruas sem rumo, perdido, incapaz de imaginar como será sua vida sozinho no mundo.

Um jovem e solitário escritor/poeta, leva seus escritos para a única amiga ler. Como ela ñ lhe dá a atenção q ele deseja no momento, ele se mata atirando-se da varanda do apartamento dela, deixando-a estarrecida e culpada.

Um travesti negro que sonha em ser uma estrela da tv, vive de programas e um dia é incendiado no meio da rua por dois "filhinhos de papai" que só querem se divertir.

Uma garota abandonada grávida pelo namorado, quase morre, tentando abortar sozinha, num quarto fétido de uma pensão na boca do lixo, o filho, que não nasce.

Um rapaz homossexual, mente pra mãe dizendo que trabalha á noite e vai pro submundo, enquanto a mulher evangélica, fica rezando pelo filho e esperando que ele lhe apresente uma namorada.

Uma moça dá a luz um bebê num ferro-velho abandonado e o deixa ali mesmo.

Em comum, todos vivem na mesma cidade, São Paulo, e são ouvintes do mesmo programa de rádio, o místico O SIGNO DA CIDADE. Um programa apresentado pela bela e amargurada Teca, uma astróloga que leva esperança para seus ouvintes lendo o futuro deles nas estrelas.

Todos estão sozinhos, a esmo, cada um por si.

Numa cidade tão grande, as pessoas esquecem uma das outras, são frias, endurecidas pelo dia a dia corrido e caótico da imensa São Paulo.

Todas tem seus sonhos. Todas querem ser amadas. Mas é preciso "matar um leão por dia". Sem romantismos, sem ilusões.

O signo da cidade é um filme brasileiro, dirigido por Carlos Alberto Ricceli e estrelado por sua belíssima esposa Bruna Lombardi.

Assisti ao filme na época de seu lançamento no cinema, em abril de 2008, estava morando em Porto Alegre ainda e a história me envolveu e mexeu muito comigo, mas ao sair do cinema minha realidade era outra, um pouco menos triste e solitária.

Hoje, mais de um ano depois e morando em São Paulo, me sinto dentro do filme, como mais um daqueles personagens.

Eu, que já sonhei tanto. Que sempre me iludi com a ideia romântica de viver um grande amor. Hoje corro contra o tempo, trabalho feito louco, durmo muito pouco. Não conheço ninguém, não tenho amigos, nem ao menos uma simples companhia pra uma pizza ou um cinema.

Eu, que por tanto tempo desejei um milhão de amigos e muitas vezes sofri por não tê-los, briguei com a solidão, rasguei meu coração, pra enfim chegar até aqui e compreender que estamos todos sós, no filme, na vida.

Cada um lidando com ela a sua maneira. Correndo feito formigas fugindo da água, nas ruas, no metrô ou presas no trânsito infernal dessa megalópole ensandecedora, onde o luxo e o lixo se misturam e confundem-se de maneira fascinante e atordoadora.

Por incrível que pareça, agora, mais do que nunca me sinto forte, confiante, seguro de mim e incapaz de ser atingido por sentimentalismos fugazes, mas as vezes quando páro um pouco pra respirar, aquele velho vazio teima em ressurgir.

Ligo o rádio pra espantar a solidão. Quantos milhares de pessoas não estão fazendo o mesmo aqui em São Paulo, no mesmo momento que eu? Quantas não se sentem iguais a mim? Isso é um consolo?

Lembro do filme. Reflito sobre a minha vida. Penso no resultado das minhas escolhas. Percebo que não estou infeliz. Solitário sim, mas não infeliz.

Chego a conclusão que a luta diária pela sobrevivência nos deixa duros e insensíveis, muitas vezes involuntariamente. E já que as horas e o tempo nos pesa tanto ainda insistimos em sonhar com um pouco de arte, amor e alegria.

Porque, como diz uma das personagens do filme, tem coisa que ainda vale a pena.



Abaixo o link de um clip do filme com a música tema de Caetano Veloso. Prestem atenção na letra, resume bem tudo o que eu quis dizer:
http://www.youtube.com/watch?v=S-_nVK_GsqA&feature=related




PENSAMENTO DO DIA:"Há que endurecer-se, mas sem perder a ternura jamais."








terça-feira, 16 de junho de 2009

O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Estava com 12 anos e todas as suas coleguinhas já haviam começado a se interessar por rapazes.

Ela também já estava começando a sentir coisas, mas era diferente. O garoto que invadia seus sonhos já não era mais nenhum garoto.

O nome dele era Miguel, tinha quase 40 anos, casado, pai de três filhos adolescentes e era seu professor de Educação Física

Jéssica não sabia dizer exatamente quando começou, mas sentia que era algo que crescia gradativamente dentro de si.

Nas aulas, observava maliciosamente as pernas grossas e peludas do professor á distância, mordiscava os lábios de excitação. Os garotos da sua idade não tinham aquelas pernas, nem aquele tórax torneado e os bíceps perfeitamente definidos, sem falar nos charmosos fios grisalhos que lhe cobriam tão sensualmente a cabeça, pensava entre suspiros.

Definitivamente, Miguel fazia Jássica pensar loucuras. Era apenas uma menina, mas as coisas que imaginava com o professor eram dignas de qualquer obra de Nelson Rodrigues ou Vladimir Nabokov com sua indefectível Lolita.

O ápice de seu desejo aconteceu em um campeonato de vôlei juvenil.

Jéssica era excelente jogadora e quando conquistou a vitória naquele jogo, recebeu de Miguel um esfuziante abraço comemorativo.

Aquele abraço foi o motivo de muitas noites insones para Jéssica, e naquele mesmo dia no escuro do seu quarto rosa de menina, cercada por bichinhos de pelúcia, barbies e pôsteres do New Kids On The Block, ela se tocou delicadamente pela primeira vez. Sentiu a maciez de sua carne tenra misturar-se com a aspereza recém brotada de sua pele, aumentou o rítmo e então como estocadas alucinantes ela sentia seu corpo se debater frenéticamente sob os lençóis macios e perfumados. O rosto de Miguel, vermelho e suado por causa dos exercícios, invadia sua mente. Também o corpo dele, inteiro, latejante. Imaginava o que haveria dentro do minúsculo short azul que o professor usava em todas as aulas.

E nesse exercício de imaginação, intenso e pululante, explodiu em gozo e delírio.

Sentiu a respiração ofegante diminuir suavemente e adormeceu exausta e completamente satisfeita.

Nos dias que se seguiram, Jássica sentia-se estranha. Nas aulas não ficava mais á vontade com o professor. Ele mexia com ela agora, de uma forma diferente, mais real, mais intensa, e era como se ele soubesse que desde o momento daquele abraço, eles dormiam juntos e "faziam amor" quase todas as noites.

Notando a mudança de comportamento da aluna, Miguel imaginou que fosse coisas da idade e decidiu manter-se a distância para nã invadir o espaço da garota. Aproximava-se e falava com ela apenas o estritamente necessário.

Diante disto, Jéssica começou a fantasiar que o professor havia descoberto sua paixão e suas práticas noturnas em homenagem a ele, e por isso, sentindo-se desrespeitado, deixou de dar-lhe a atenção que antes lhe dedicava. Quando pensava isso sentia dores no estômago de tanta vergonha, não conseguia mais encarar o professor de jeito nenhum.

Faltavam poucos meses para o final do ano letivo e Jéssica não via a hora para que acabasse logo.

Por fim as aulas terminaram. Jéssica sentiu-se triste por ter de se afastar de seu querido professor, mas também aliviada, pois não aguentava mais ser torturada pelo constrangimento que a ideia do professor saber de tudo, lhe provocava.

O tempo passou. Jéssica cresceu, saiu da pequena cidade em que morava, foi estudar fora. Tornou-se uma moça moderna, descolada, antenada com o mundo.

Muitos anos mais tarde, de visita á casa dos pais, na cidadezinha de sua infância, tudo continuava praticamente igual, exceto ela.

Não entendia como algumas pessoas conseguiam viver uma vida inteira em uma cidade tão provinciana.

Um dia, enquanto caminhava sem destino, deparou-se com um senhor de aparência cansada e andar lento.

Seu rosto iluminou-se de admiraçaõ e surpresa ao reconhecer naquele senhor o professor que tanto lhe roubou o sono, num passado já quase esquecido até aquele dia.

Sim, era ele, Miguel, o professor de Educação Física.

O vigor já não era o mesmo de antes, o rosto já estava bem enrugado, os cabelos mais grisalhos, mas o olhar e o charme permaneciam os mesmos.

Jéssica o cumprimentou entusiasmada. O professor, já aposentado, foi apenas educado e não trocou mais do que duas palavras.

A garota ficou desapontada com a frieza do ex-professor, pois acreditava ter sido uma aluna especial, pelo menos era assim que gostava de pensar.

Nas horas seguintes ao inesperado e frustrante reencontro, Jéssica pensou na vida, no tempo, em como ele passa rápido e pode ser cruel para alguns e como junto com ele as pessoas mudam ou não.

Seguiu assim um antigo ritual de infância.

Caminhou á beira-mar sentindo o vento no rosto. Voltou pra casa, tomou o lanche especial que sua mãe sempre preparara. Ouviu um pouco de música.

Recolheu-se então ao seu quarto de menina, que permanecia intacto. Os mesmos pôsteres, os mesmos bichos de pelúcia, as mesmas bonecas, os mesmos lençóis perfumados e um único e pertinente pensamento, o professor de Educação Física.

Naquela noite, depois de muitos anos, Jéssica adormeceu exausta e completamente satisfeita.




PENSAMENTO DO DIA: "Uma imaginação bem canalizada é fonte de grandes proezas."

domingo, 7 de junho de 2009

VOLTANDO

Após um período razoavelmente longo, pouco mais de 2 meses, finalmente estou voltando.

Senti uma saudade danada!!!

Saudade de desabafar, de fantasiar, de debater e principalmente dos comentários, pra mim tão importantes, que enriquecem e prestigiam meu humilde blog.

Apesar da saudade, esse afastamento temporário foi extremamente necessário para mim. Quando da última postagem, lá no longínquo 26/03, comentei sobre certa crise de inspiração, crise esta advinda de uma fase nebulosa, um verdadeiro inferno astral.

Perdi o emprego, os "amigos" se afastaram, as dívidas se acumulavam, uma carência afetiva absurda me deixando triste, desiludido, sem ânimo pra nada. Minha querida Porto Alegre, outrora tão fascinante, charmosa, divertida e calorosa tornou-se cinza, fria, desinteressante e sem alma.

Diante de um quadro como esse, que inspiração resistiria?

Felizmente a maré baixa passou, sacudi a poeira e estou conseguindo dar a volta por cima.

Troquei Porto Alegre por São Paulo e estou recomeçando do zero. Os caquinhos estão sendo juntados e pouco a pouco vão formando um lindo vitral, colorido e brilhante como à tempos não se via.

Agora nessa nova cidade, são tantas as possibilidades!

Tenho certeza que esse blog vai bombar com novas e interessantes histórias. A cada novo lugar que conhecer, a cada descoberta, um novo livro, filme, peça teatral, uma nova pessoa e a cada nova sensação que o espetáculo da vida me proporcionar, estarei aqui relatando em detalhes cada pequena emoção, boa ou ruim, feliz ou triste, real ou inventada. Sem deixar de lado o lúdico e a fantasia que é o que nos alimenta a alma.

Espero contar com vocês meus estimados leitores e amigos, para que possamos continuar compartilhando essa viagem incrível e fascinante pelo mundo pensante de cada um de nós através das letras.

Agradeço tbm á todos os que sentiram falta de minhas postagens e demonstraram isso com mensagens carinhosas, obrigado de coração. Abraços á todos e até logo!!!


PENSAMENTO DO DIA: "A gente passa e a vida continua..."